O preço…

Escrito ouvindo ‘Jan A.P. Kaczmarek em composição para o filme The Visitor’

[audio:http://www.gelonegro.com.br/wp-content/uploads/2011/02/o-preco.mp3|titles=o preco]

O tempo é certamente um dos fatos da nossa vida, que mais muda seu próprio valor. Enquanto ainda somos jovens, a preocupação com ele praticamente não existe.
Você vai envelhecendo e não sei exatamente se é um fato real ou uma sensação. Mas um dia você acorda de manhã e parece que a noite chegou mais depressa que no dia anterior. Então mais depressa no dia seguinte, depois mais e um pouco mais nos próximos.

Muitas outras sensações mudam assim como o tempo, talvez uma das menos gloriosas, a constatação de que não podemos dizer tudo que gostaríamos. Que não podemos agir exatamente como gostaríamos. Em troca da simples tentativa de ser aceito, simples porém eficaz. Quem fala demais ou age por impulso, tende a ser visto, com poucas situações necessárias, como um inconveniente.

Pessoas não sabem lidar com o inesperado, com o inconstante, com a mais sutil ameaça às suas rotinas. Casam, buscam bons empregos, filhos, animais de estimação, amigos e passam a fantasiar que é um ideal de vida, uma meta, um objetivo necessário para se sentirem completos. Na realidade, nada além da necessidade de evitar que o destino possa fazer todas as escolhas. Entre a sorte e o azar, é preferível fazer suas próprias escolhas e se confortar delas.

Bloqueiam as chances de que novas possibilidades possam ter de nascer a cada momento, dos lugares mais inesperados e que nos levarão a realidades tão diferentes, que se torna impossível sentir-se confortável. Não é nenhum pensamento original, mas vivemos em uma realidade fragilmente falsa, de harmonia inexistente. Nesta tentativa de não abalar o comum, o costumeiro, o status quo, criamos nossas próprias conveniências. Escondemos sentimentos, sufocamos necessidades e desejos, que vão muito além do sexual.

Talvez este seja o mais rápido e fácil de resolver. Em qualquer esquina, com poucos trocados, tudo se resolve. Pense mais além. Pense mais profundamente. Quantas vezes você calou suas idéias, recusou seu instinto de poder dizer tudo o que gostaria, para agir da maneira mais inconsequente, de um jeito que você nem pode imaginar.

Por isso precisamos de tantos estímulos e distrações. E mesmo diante de tantas tecnologias e novidades, continuamos frustrados, inquietos, sufocados, depressivos. Não temos a capacidade de entender que todo sentimento sufocado, gera uma sequência de consequências que, podem garantir nossa sobrevivência em sociedade, mas são incapazes de garantir a sobrevivência de sua verdadeira personalidade dentro de si mesmo, dentro de sua própria consciência.

E essa morte interior terá como única vítima, você. A sociedade continuará, filhos tomarão o lugar dos pais, outras pessoas tomarão o lugar de outras pessoas e todos nós passaremos por esta vida, sem saber exatamente o motivo de nunca ter escolhido suportar o fardo que precede a verdade, em troca da verdadeira liberdade.

Eu gostaria de dizer coisas que não posso dizer.
Eu gostaria de ter atitudes que eu não posso ter.
Eu gostaria de pagar um preço que eu não posso pagar.

Em busca de uma sobrevivência meio morta.
Pela metade, convivendo eternamente com o quase.
Com o que poderia ser e nunca será.
Com as causas já perdidas.
Com todas as coisas que nunca serão ditas, para pessoas que precisavam ouvir verdades que foram cerceadas.
Ainda não consegui entender, qual o mérito.

Provavelmente nenhum.
Perdemos o tempo onde a honra era defendida na lâmina de uma espada.
Onde para sobreviver, precisava coragem.
Hoje compramos nosso direito a palavra,
paradoxalmente pagando com silêncio.

J.R.Wills

Uma resposta para “O preço…”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *