Estou ainda perturbado após assistir o documentário sobre o Ayrton Senna. É estranho, mas de alguma forma, sua morte me comove como se fosse uma relação recíproca. Tenho um problema em aceitar histórias contadas pela metade, histórias que terminam antes do que deveriam, mas como profetizou Renato Russo: ‘Os bons, morrem jovens’.
Até para escrever é difícil. Realmente fiquei bastante abalado com o documentário, nenhuma relação com sua qualidade ou a forma com que contaram as passagens na vida profissional do Ayrton, mas incrivelmente, reviver aquele fatídico dia me doeu na alma. Sabe quando nem a lágrima consegue escorrer pelo seu rosto. Tudo paraliza em você, sentimentos confusos, falta de saber o que de fato pensar.
Dói ouvir uma pessoa fazer planos e saber que eles não vão acontecer. Lembrei do Cazuza, que em várias entrevistas declarava estar confiante em encontrar uma cura para a AIDS. Lembrou meu pai que foi embora também, rápido demais. Talvez a lembraça do meu pai se misture a tudo isso mesmo. Meu pai tinha uma vida difícil, andava quilômetros e quilômetros de carro, vendendo materiais esportivos. O esporte era uma grande paixão e os poucos momentos que tínhamos juntos, era em frente à TV, assistindo alguma coisa que usasse bola, ou ainda, Fórmula 1 aos domingos. A única circunstância onde meu pai me permitia ficar acordado de madrugada, era diante da TV esperando começar a Fórmula 1.
Lembro realmente com muita tristeza aquele dia, pois assim que o acidente aconteceu, eu falei: ‘Pai, o Senna morreu’. Meu pai respondeu gritando: ‘Cala Boca Muleque, não sabe, não fale’. Eu entendo sua irritação, afinal, ninguém poderia acreditar que isso iria acontecer, ou ao menos não queríamos.
Como documentário é um filme excelente, muito claro, fácil de entender, de juntar as peças, entender as dificuldades políticas que envolvem a F1, problemas como já enfrentaram Barrichello, Fittipaldi, Felipe Massa, mas que foram resolvidos de maneira diferente a qual ele resolveu.
Senna é uma experiência de vida, de acreditar nos nossos objetivos, de traçar metas, de ter coragem, honra, determinação, ousadia, petulância. O Ayrton era no mínimo tudo isso. Talvez não entendemos hoje os propósitos de suas atitudes. Porque ele não parou no momento certo, porque tanta obcessão pela vitória. Mas se você pensar um pouco, vai entender, que uma missão existe para ser cumprida. Difícil entender, mas tinha que ser assim, exatamente assim, para que o mundo pudesse girar um pouco mais.
Não se trata uma questão de dizer que é bom e que você deveria alugar este filme, Assistir ‘Senna’ é uma obrigação.
Ficha Técnica
título original … Senna
gênero … Documentário
duração … 90 min
ano de lançamento … 2010
site oficial: www.sennaofilme.com.br
estúdio … Working Title Films / Midfield Films
distribuidora … Universal Pictures
direção … Asif Kapadia
roteiro … Manish Pandey
produção … Tim Bevan, Eric Fellner e James Gay-Rees
música … Antonio Pinto
fotografia … Gregers Salt
edição: Chris King e Gregers Sall
Premiações
Sundance Festival 2011
Ganhou Melhor Documentário – Júri Popular
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