Este não é um post agendado, eu realmente estou aqui escrevendo ele, há exatas 19:09, do dia 31 de dezembro de 2011. Independente do quanto tentamos fugir do pensamento cliché e por vezes ignorante, que acredita haver alguma diferença entre poucos minutos que nos separam de um ano ao outro, é impossível não entender que de fato, é o ponto de partida de mais uma tentativa, na busca pelas ambições que nos mantém vivos. Se não ouvesse para onde caminhar, não existiria razão para toda essa existência. Eu não tive o melhor ano da minha vida e apesar das cicatrizes que ainda marcam a pele da alma, não foi o pior. Sem dúvida estou longe do caminho que um dia imaginei, lá durante a adolescência. E nesta posição de incrédulo, tenho nítida a ideia de que o sofrimento de muitos, não cessará apenas porque acreditamos ser um momento de renovação. Nesse eterno misto de euforia e compadecimento pelos que não conseguem encontrar motivos para comemorar, só me resta desejar que por algum motivo sem explicação óbvia, mesmo quem não tem uma roupa branca e nova, mesmo quem não pulará ondinhas na praia, que não irá estourar uma champagne na virada, que toda a sorte do mundo esteja com vocês, que não puderam dar-se ao luxo das simpatias de Ano Novo.
Eu gostaria de neste momento, toda dor, toda tristeza, toda descrença, toda melancolia, toda falta, desse uma pequena trégua, não imaginando que seja uma solução, mas que permita criar a sensação de que existe esperança, para que possamos respirar fundo e enfrentar tudo de frente, confiante na vitória…
Há algum tempo, publiquei no Facebook do Gelo Negro, a letra da canção ‘Amor para Recomeçar’, gravada pelo Frejat. Acabei descobrindo tardeamente que ela foi inspirada em um texto escrito pelo jornalista gaúcho ‘Sérgio Jockymann’. Li que erroneamente o texto é atribuido a Victor Hugo, escritor francês falecido em 1885.
Queria dedicar este texto, para as pessoas que estiveram ao meu lado este ano, de uma forma ou de outra, mas principalmente para a mulher que está ao meu lado há 11 anos, acreditanto e desejando que o próximo será melhor. Amém…
“OS VOTOS”
Pois, desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado,
E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo, não guarde mágoa.Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos e que, mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis,
E que em pelo menos um deles você possa confiar, que confiando, não duvide de sua confiança.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas
E que entre eles haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiadamente seguro.Desejo, depois, que você seja útil, não insubstituivelmente útil,
Mas razoavelmente útil. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante,
não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente,
E que essa tolerância não se transforme em aplauso nem em permissividade,
Para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que, sendo maduro,
não insista em rejuvenescer e que, sendo velho, não se dedique a desesperar.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.Desejo, por sinal, que você seja triste, mas não o ano todo,
nem em um mês e muito menos numa semana, mas apenas por um dia.
Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom,
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.Desejo que você descubra com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo,
Talvez agora mesmo, mas se for impossível, amanhã de manhã,
que existem oprimidos, injustiçados e infelizes,
e que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.
E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão
e ouça pelo menos um joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal.
Porque assim você se sentirá bem por nada.Desejo também que você plante uma semente,
por mais ridícula que seja, e acompanhe o seu crescimento dia-a-dia,
para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que, pelo menos uma vez por ano, você ponha uma porção dele na sua frente e diga:
Isso é meu. Só para que fique bem claro quem é dono de quem.Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal,
não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.
Mas que esse frugalismo não impeça você de abusar quando o abuso se impõe.Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por ele e por você.
Mas que, se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.Desejo, por fim, que sendo mulher você tenha um bom homem,
E que sendo homem, tenha uma boa mulher.
E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez,
E novamente, de agora até o próximo ano acabar,
E que quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda tenham amor para recomeçar.E se isso só acontecer, não tenho mais nada para desejar.
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