Um Homem Sério

O poster de ‘Um Homem Sério’ já revela muito sobre o filme. A imagem nitidamente inútil: um homem, um telhado e uma arcaica antena UHF. Se você ainda não assistiu este filme, precisa assisti-lo. Se já assistiu, não se preocupe se não entendeu absolutamente nada. ‘Um Homem Sério’ é o típico filme que precisa vir com manual, o típico filme que você só vai achar bom, após ler sobre ele em algum site de algum crítico que parece ter um QI 100 vezes maior que o seu. Eu confesso que achei o filme interessante, mas fiquei perdidasso. Depois de muito pesquisar, de ler inúmeras avaliações, chequei a minha própria, que no fundo é um misto de todas elas.

Em resumo o filme trata de uma questão muito simples: ação e reação, causa e consequência. Ele questiona nossos valores éticos e religiosos. Afinal, ser um bom homem lhe garantirá algum benefício? Não é isso que aprendemos desde sempre? Que nossas atitudes possuirão algum tipo de consequência, boa ou ruim.

Sinopse

1967. Larry Gopnik (Michael Stuhlberg) trabalha como professor de física na Universidade de Midwestern. Ele vê sua vida mudar radicalmente quando sua esposa, Judith (Sari Lennick), decide deixá-lo por Sy Ableman (Fred Melamed). Além disto, uma carta anônima ameaça sua carreira na universidade. Larry ainda precisa lidar com os problemas de Arthur (Richard Kind), seu irmão, que mora em sua casa e dorme no sofá; seu filho Danny (Aaron Wolff), problemático e rebelde; e ainda Sarah (Jessica McManus), sua filha, que constantemente pega dinheiro de sua carteira para uma futura cirurgia plástica no nariz. Sem saber o que fazer, Larry busca os conselhos de três rabinos.

Ficha Técnica

Título Original … A Serious Man
Origem … Reino Unido / Alemanha / USA
Gênero … Comédia Dramática
Duração .. 106 min
Lançamento … 2009
Direção … Joel Coen e Ethan Coen
Roteiro … Irmãos Coen

Elenco

Michael Stuhlbarg como Larry Gopnik
Richard Kind como Arthur Gopnik
Adam Arkin como Don Milgram
Katherine Borowitz como Mimi Nudell
Michael Lerner como Solomon Schlutz

Spoilerando

Se quiser saber o que eu conclui com o filme, continue lendo…

Um Homem Sério é muito classificado como uma sátira sobre a crença judaica, quando eu acredito que todas as cenas absurdas, tragicômicas, são muito bem definidas pelo termo recente ‘comédia dramática’. A velha frase: ‘seria cômico se não fosse trágico’ nunca foi tão precisa para definir uma situação, como a vivida por Larry Gopnik. Começando pela incoerência ou paradoxo que existe em um judeu que segue todos os princípios de sua religião, ser um professor universitário de física, que costuma dizer que tudo se explica pela matemática. A velha história da religião sendo maleável quando existem outros interesses envolvidos. Em um determinado momento do filme, enquanto o aluno de Larry tenta lhe subornar para receber uma nova nota, lhe diz: ‘Por favor aceite o mistério’.

O mistério que ele se cita não se referia ao mistério da vida, de Deus ou qualquer outro questionamento, mas se tratava de uma indireta para que ele aceitasse o subordo do aluno e fingisse que não sabia a origem do dinheiro. O filme é um cobertor de retalhos, com inúmeras referências, questões nas entrelinhas que só se tornarão clara quando você pesquisa sobre o filme. A base de tudo obviamente é o questionamento da veracidade e importância da religião em nossas vidas, limitando nossas atitudes, nos fazendo acreditar que devemos aceitar certas questões, apenas por receio de consequências e de julgamentos que podemos ter, ainda em vida ou não.

‘O que fiz para merecer isso?’ certamente é um questionamento que todo mundo já se fez. É com esta ideia fixa que Larry aceita todos os absurdos que acontecem em sua vida. O vizinho que corta uma parte da grama de sua casa, tentando aos poucos se apropriar daquele espaço, a esposa que além de traí-lo sem qualquer remorço ainda convida o amante para visitar sua casa e mais tarde comunicar a ele que querem morar junto e desejam que ele saia de casa, o irmão meio maluco que ele sustenta, o filho maconheiro, a filha com seus problemas de auto-aceitação, o aluno que acredita que possa comprar sua nota, o colega de trabalho que vive fazendo especulações sobre sua promoção profissional.

Diante deste caos, Larry continua mantendo a calma diante de tantos absurdos, pois precisa seguir os princípios de sua religião. Ao mesmo tempo ele teme as consequências de suas atitudes e prefere buscar na religião uma solução para os seus problemas. Neste momento vemos o rabino importante e extremamente ocupado que durante o bar mitzvah de seu filho, demonstra que de importância e relevância ele não possuia nada, era apenas uma pose para parecer extremamente importante, assim como a religião costuma ser, independente da religião.

Além disso, o filme faz referências irônicas a outros assuntos, como a crise financeira americana, quando no final do filme mostra a bandeira americana sendo arrancada por um tornado. É conhecido o fato que todo filme americano mostra a bandeira em momentos-chave para justamente demonstrar o patriotismo americano. Neste caso o símbolo americano sendo destruído por um tornado mostra que no fundo o país não está acima do bem e do mal, onde todo o tipo de soberania não é capaz de ser maior que o poder simples da natureza. Essa iconoclastia acontece o tempo inteiro no filme, quebrando a importância da religião, da física, da matemática.

Outra sacada interessante é a brincadeira que eles fazem com nosso hábito de tentar adivinhar a história antes que ela se explique de fato. No início do filme a cena do garoto ouvindo fone de ouvido no último volume, cortanto para a cena do homem fazendo exame de ouvido, nos faz acreditar que existem duas linhas temporais e que trata-se da mesma pessoa, mostrando sua vida adulta e sua adolescência, quando de repente você percebe que essa ideia estava apenas em sua cabeça e que na realidade eles são pai e filho e que não existe nenhuma relação entre uma coisa e outra. Igualmente eles fazem na cena do acidente, quando você jura que os dois acidentes eram um só.

Para finalizar, o filme que muitos acreditam não ter um final, fecha todo o sentido do filme. Ele que passa o tempo inteiro aceitando todos os absurdos da vida por receio dos seus princípios religiosos, acaba descobrindo que possui uma doença grave, quebrando nosso velho conceito que boas atitudes são pagas com algum tipo de benção, com algum benefício. Uma ciência nada exata e nada matemática. A vida não tem lógica e coisas ruins acontecem com pessoas boas, mas também com as ruins e vice-versa.

Aceite o mistério…

Larry vive este caos em sua vida e esquece que o caos também é um conceito matemático. O filme começa com a cena nonsense onde um pacato casal acaba assassinando um parente, por ter acreditado em um boato que correu na família e levado pelos princípios e crenças religiosas, acredita que o parente que achavam estar morto, seria um fantasma. A ideia de interpretar os ensinamentos religiosos ao pé da letra levam a mulher a matar o tio, um detalhe que faz uma clara referência as religiões que justificam pelas crenças religiosas, atos de terrorismo.

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