Filmes com temas religiosos são em geral iconoclastas. Dificilmente fogem dos clichês básicos sobre o questionamento da fé, os segredos, as tentações e o julgamente e a punição divina sobre tudo isso. Vou pontuar logo no início: o filme não é bom. Ainda assim, não me arrependi de assistir. A sensação que fica é que o livro que o inspirou possa ser muito bom (escrito por Matthew G. Lewis e publicado em 1796), já que a direção do filme é que deixa a desejar. Tecnicamente O Monge é bem produzido, belas cenas, ótima fotografia, mas o roteiro é fraco, sem um grande propósito, sem fio condutor, sem grandes consequências. A mensagem mais forte é colocada diretamente no início do filme:
Satanás só tem o poder que você lhe permite ter
Seria mais correto dizer que seus erros não são culpa de um ser que vive no inferno e usa um tridente. A invenção de um demônio que atenta as pessoas é sem dúvida a criação mais oportuna e covarde que a sociedade já criou, colocando a culpa de suas atrocidades em algum poder oculto. Nossa natureza humana já é por si torta, selvagem, sem controle. Não precisamos de nenhum agente para nos tentar a nada. O que fica confuso para mim no filme é se existe ou não a tentativa de mostrar que Deus é punitivo.
O filme começa com um diálogo forte. Um pedófilo confidenciando ao monge Ambrósio (Vincent Cassel), sobre seus casos de pedofilia, em especial sobre as sessões de estupro a sua própria sobrinha, o qual confessa acontecer há muito tempo e muitas vezes, repetidamente ao longo de um dia. O que deveria ser levado as autoridades para um julgamento correto, fica confidenciado a igreja e ao monge que reage as confissões, quase como se ouvisse um conto erótico, pouco se importando com os detalhes sórdidos e aparentemente até gostando deles, quando pergunta ao fiel sobre a sua próxima vida. O filme é repleto de insinuações e atitudes dúbias, nada mais coerente diante desta dualidade da igreja católica e essa inegável vontade de esconder dentro de suas igrejas aquilo que deveria ser público e condenado pelo estado. Além de pedofilia o filme fala sobre inveja, fanatismo, gravidez, elitismo, preconceito, dogmas, tabus, paixão e incesto. Precisamos contextualizar a história, lembrando que o livro foi escrito há 217 anos o que para a época deveria ser algo extremamente forte. O livro era um conto gótico, o que no filme passa de forma muito sutil e pouco explorada, poderia ter esta aura mais bizarra, mais dark, mais sombria. ‘O Monge’ foi a obra mais importante de Lewis, que viveu entre 1775 e 1818.
A atuação de Cassel é sempre boa e apesar de já ter lhe visto em inúmeros papéis de personagens de caráter duvidoso, ele convence como um monge da Ordem dos Capuchinhos. Claro que sua escalação para o papel já é um spoiler, pois sabemos que nenhum dos seus filmes pode ficar sem alguma fornicação. Cassel é naturalmente e obrigatoriamente a personificação do contraventor, do conquistador, do mal caráter. É assim em ‘Cisne Negro’, é assim em ‘Um Método Perigoso’, em ‘Fora de Rumo’, em ‘Irreversível’ (filme excelente para quem estuda cinema com ótimas cenas de plano sequência).
Já que o filme fala obviamente de tentação (que filme de religião não falaria), vou destacar a beleza da atriz belga ‘Déborah François’ e da francesa Joséphine Japy. Outra participação muito especial é de Geraldine Leigh Chaplin, filha de ninguém menos que? que? que? Ele mesmo, Charles Chaplin.
Ficha Técnica
Título Original … Le Moine
Origem … Espanha/França
Gênero … Drama/Suspense
Duração .. 101 min
Lançamento … 2011
Direção … Dominik Moll
Roteiro … Dominik Moll baseado no livro de Matthew Lewis
Elenco
Vincent Cassel como Capucin Ambrosio
Déborah François como Valerio (o mascarado)
Joséphine Japy como Antonia
Sergi López como Le débauché
Catherine Mouchet como Elvire
Jordi Dauder como Père Miguel
Geraldine Chaplin como L’abbesse
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