Meu amigo Expedito…

Não me recordo muito bem como ele chegou até mim, mas tenho a impressão de que foi através da minha mãe, que sempre foi muito devota a fé católica. Hoje eu não frequento igrejas, gosto, acho todas bonitas e serenas, mas tenho dificuldade de encontrar razão nas missas repetitivas e pouco didáticas empregadas pelo catolicismo. Apesar disso, continuo mantendo minha fé cristã, independente do quanto o nome de Jesus Cristo já tenha sido usado para defender as piores causas e atrocidades humanas. Acredito que a fé, apesar de ser muito associada ao coletivo, trata-se de uma experiência individual e isto lhe dá o direito de acreditar em qualquer coisa ou não acreditar em coisa alguma além de você mesmo. Desde que isso lhe traga paz, já está valendo. Portanto é automática a ideia de que a liberdade de crença, pressupõe o respeito a todas elas.

Em todos os momentos críticos da minha vida, e não foram poucos, recorri a este santo católico para pedir proteção. Me agarrei a ele como uma forma de não me sentir só e desamparado quando todos pareciam me virar as costas. Tanto pessoas, quanto a sorte, quanto a fé, quanto a vida. E de forma inexplicável, em todas as vezes que a ele recorri, soluções apareceram sem justificativa ou lógica, muitos chamariam de milagre. E eu poderia citar inúmeras situações improváveis aqui. Acaso? Destino? Coincidência? Não importa. Queria no entanto contar um pouco do que a história diz sobre ele.

santo-expedito

Santo Expedito

O nome Expeditus (Expedito) pode ser uma corruptela (deformação de palavras, originada pela má compreensão/audição e posterior reprodução, ou ainda de forma proposital), de Elpidius, conforme sugerem os beneditinos de Paris. Outra hipótese é de que o nome tenha derivado de ‘Spedito’, palavra inscrita numa caixa com relíquias de um santo desconhecido retiradas das catacumbas de Roma e enviada a Paris no século XVII. Contudo, ‘Spedito’ em italiano significa ‘rápido’, e pode significar simplesmente que a caixa devia ser enviada com presteza ao seu destino. As freiras interpretaram a inscrição como se fosse o nome do santo e passaram a divulgar sua devoção, latinizando o nome para ‘Expeditus’. Esta história, relatada pelo religioso inglês Alban Butler em sua famosa obra hagiográfica ‘The Lives of the Fathers, Martyrs and Other Principal Saints’ (1756–1759), tampouco tem fonte segura e circulam várias outras versões mais ou menos parecidas, que mudam datas e locais. Assinale-se que ‘expeditus’ também era uma categoria militar do exército romano, correspondente ao soldado da infantaria ligeira, e daí pode ter derivado seu nome.

Lendas

A lenda mais corrente sobre sua vida o mostra como um militar romano, Comandante-em-Chefe da 12a Legião, conhecida como ‘Fulminata’, aquartelada em Melitene, e encarregada de proteger o Império das invasões dos bárbaros orientais com um efetivo de mais de 6.800 soldados. Sendo cristão, como era a maioria de seus subordinados, todos nativos da Armênia, teria sido condenado durante as perseguições de Diocleciano no dia 19 de abril do ano 303, sendo martirizado e por fim decapitado com a espada por recusar-se a adorar os deuses pagãos. Outra lenda diz respeito à sua conversão ao cristianismo. Tentado por um demônio em forma de corvo que gritava Cras! Cras! Cras! (em latim, ‘Amanhã’), que surgiu para adiar sua conversão, teria pisado a criatura dizendo Hodie! (‘hoje’), significando sua disposição heróica de converter-se de imediato.

Devoção e Iconografia

Não há qualquer registro de haver se formado uma tradição sobre ele na Antiguidade, mas no século VIII ele já recebia culto na Germânia e na Sicília. Seu culto só iniciou uma difusão mais larga por volta do século XVII, talvez a partir da França ou da Alemanha, onde era representado como um advogado pisando um corvo que grita cras! cras!, significando as intermináveis delongas nos processos judiciais, contra as quais ele era invocado. Em 1781 foi designado padroeiro de Acireale, na Sicília, e desde então sua devoção se espalhou rapidamente por muitos países.

É possível que sua ligação com as causas urgentes derive unicamente do significado do seu nome. Tradicionalmente também é o patrono dos mercadores, navegantes, estudantes e dos que vão prestar exames, mas em anos recentes ele tem sido invocado por hackers, geeks e procastinadores habituais da slacker generation como seu protetor. É o patrono oficial da República da Molóssia, micronação não reconhecida internacionalmente. No Brasil sua veneração ganhou corpo nos anos 80 e hoje ele tem multidões de devotos e sua imagem circula em chaveiros, cartazes, panfletos e santinhos distribuídos aos milhares. Deu seu nome ao município de Santo Expedito, em São Paulo.

Sua posição oficial na Igreja Católica é incerta. No Martyrologium Hieronymianum ele aparecia ao lado de outros mártires comemorados entre os dias 18 e 19 de abril. A Igreja reconhece a devoção popular e existem igrejas e capelas a ele dedicadas em muitas partes do mundo, mas não foi incluído na edição de 2001 do Martyrologium Romanum. Sua representação mais comum é a de um soldado romano, com traje de legionário, vestido de armadura, túnica curta e manto jogado atrás das espáduas, com postura marcial. Em uma mão sustenta a palma do martírio e na outra uma cruz que ostenta a palavra hodie, em referência ao episódio do espírito do mal, o corvo que lança seu grito habitual cras! e que é representado debaixo de seu pé.

Uma história pessoal

Em agosto de 2008 eu vendi meu computador e com o dinheiro que consegui, fiz uma viagem até o Paraguai no intuito de trazer um outro computador para trabalhar, desta vez melhor que aquele que eu tinha. Obviamente que o valor ultrapassava os R$ 600,00 permitidos na época. Levei cerca de R$ 3.000,00 para comprar o computador e caminhando em uma das lojas, encontrei um santinho em espanhol, do então San Expedito. Naquele momento achei que era um sinal de que tudo daria certo e eu conseguiria voltar com o computador que era uma ferramenta de trabalho. Caso eu fosse parado na fronteira e ele fosse confiscado, certamente eu não teria como comprar um outro computador.

Nosso ônibus foi parado e das cerca de 40 pessoas que foram juntas, eu fui a única pessoa que sem explicação alguma, foi liberado daquela revista mais pente fino. Metade do meu computador eu deixei dentro do ônibus. A revista dentro do ônibus quando é feita, confisca tudo que for mercadoria, sem nenhuma possibilidade nem de pagamento de taxa para legalização. Os fiscais abriram a minha bolsa, deixaram ela aberta e novamente sem explicação, não mexeram nos equipamentos que tinha nela. Vai entender?

O santinho trazia a oração clássica feita para invocar a proteção de Santo Expedito e sua intercessão junto a Jesus Cristo. Diz ela assim:

Oración al Poderoso San Expedito

Mi San Expedito de las causas justas y urgentes, intercede por mi junto a Nuestro Señor Jesucristo, para que venga en mi socorro en esta hora de aflicción y desesperanza. Mi San Expedito tú que eres el Santo Guerrero. Tú que eres el Santo de los afligidos. Tú que eres el Santo de los desesperados. Tú que eres el Santo de las causas urgentes, protégeme, ayúdame, otorgándome: fuerza, coraje y serenidad. ¡Atiende mi pedido! (Hacer el pedido)

Mi San Expedito, ayúdame a superar estas horas difíciles, protégeme de todos los que puedam perjudicarme, protege mi failia, atiende mi pedido con urgencia. Devuélveme la Paz y la tranquilidad ¡Mi San Expedito! Estaré agradecido por el resto de mi vida y propagaré tu nombre a todos los que tienem Fe. Muchas Gracias.

Não é bonitinha?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *