Tenho desenvolvido algumas teorias sobre minha vida, sobre acontecimentos e principalmente sobre a solidão, a qual tem me feito companhia há muitos anos, talvez toda uma vida. Por algum motivo estranho, justo eu que tanto aprecio as pessoas, companhias, conversas, afeto, sou fadado a ser só. Alguns diriam que é drama, melancolia, depressão ou mais um milhão de outros adjetivos superficiais. Para mim uma constatação óbvia. Desde criança tive poucos amigos. Namorei pouco e depois passei parte da minha vida em um relacionamento onde me senti ainda mais vazio.
Talvez por não me contentar com relações superficiais, momentâneas, passageiras. Não vejo lógica em algo que não perdure. Preferia não vivenciar. Ter milhares de amigos em uma rede social e não conseguir encontrar um que lhe deseje um bom dia. Que lhe pergunte como você está de verdade. Que sinta sua falta quando você falta. Essa sensação da espera, da ligação que não vem, da mensagem que não aparece, do silêncio intercalando conversas aparentemente relevantes, me incomodam profundamente. Detesto hiatos. Por isso acredito que estar de fato só, possa ser a melhor forma de vivenciar a solidão. Assim, se afastando ainda mais da pouca troca social existente, diante do silêncio total, você não espera que alguém o quebre. Você aceita e passa a coexistir com ele.
A única companhia agora será a música. A única que nunca esqueceu de mim. A única companhia que esteve sempre lá, quando necessário. Esta é uma canção que fala sobre esse vazio. E talvez, como Bettencourt fala em sua canção: ‘onde tudo morre tudo volta a nascer’. Alguém um dia disse que é preciso morrer para dar espaço ao novo. Ainda sinto que parte do que fui resiste, mesmo diante do meu esforço de que meu antigo eu se desfaça por completo, talvez assim possa enfim ser outro, mais próximo do que sonhei um dia.
O Lugar
Já é noite e o frio
Está em tudo que se vê
Lá fora ninguém sabe
Que por dentro há vazio
Porque em todos há um espaço
Que por medo não cedeu
Onde a ilusão se esquece
Do que o tempo não previu
Já é noite e o chão
É mais terra pra nascer
A água vai escorrendo
Entre as mãos a percorrer
Todo o espaço entre a sombra
Entre o espaço que restou
Para refazer a vida
No que o medo não matou
Mas onde tudo morre tudo pode renascer
Em ti vejo o tempo que passou
Vejo o sangue que correu
Vejo a força que moveu
Quando tudo parou em ti
A tempestade que não há em ti
Arrastando para o teu lugar
E é em ti que vou ficar
Já é noite e a sombra
Está em tudo o que se vê
Lá fora ninguém sabe
O que a luz pode fazer
Porque a noite foi tão fria
Que não soube acordar
A noite foi tão dura
E difícil de sarar
Mas onde tudo morre tudo pode renascer
Em ti vejo o tempo que passou
Vejo o sangue que correu
Vejo a força que moveu
Quando tudo parou em ti
A tempestade que não há em ti
Arrastando para o teu lugar
E é em ti que vou ficar
Mas eu descobri a casa onde posso adormecer
Eu já desvendei o mundo e o tempo de perder
Aqui tudo é mais forte e há mais cor no céu maior
Aqui tudo é tão novo tudo pode ser amor
Mas onde tudo morre tudo volta a nascer
Em ti vejo o tempo que passou
Vejo o sangue que correu
Vejo a força que moveu
Quando tudo parou em ti
A tempestade que não há em ti
Arrastando para o teu lugar
E é em ti que vou ficar
Já é dia e a luz
Está em tudo o que se vê
Cá dentro não se ouve
O que lá fora faz chover
Na cidade que há em ti
Encontrei o meu lugar
É em ti que vou ficar.
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