Fúria e Paz

Por todos instantes da minha vida, acreditei em duas grandes forças que nos movem: o amor e o sofrimento. Quando paramos para refletir um pouco, percebemos que tudo que faz a vida seguir seu rumo, é motivado por uma destas duas forças motrizes. O Gelo Negro nasceu assim, pela dor.

A necessidade de tirar daqui de dentro, todas as desventuras. Escrever sempre foi uma forma eficaz de exorcizar tristezas. Por isso muitas das linhas aqui eternizadas, trazem consigo a densidade, o drama, a melancolia, a solidão, o silêncio.

Talvez a escrita mereça uma utilidade mais nobre e enriquecedora. Mas todos carregam seu fardo, a minha escrita leva este. Há cinco meses deixei de escrever. Encontrei alguém. Encontrei outras motivações, mais nobres, mais leves, mais felizes.

Alguém já disse que é preciso morrer para poder renascer. É preciso enfrentar a dor, para que o amor possa encontrar o novo. Enfrentei e sobrevivi. Ainda estou aqui. Fui em busca da solidão para poder um dia encontrar companhia. Da fúria nascer a paz. Da lágrima o sorriso. Do vazio o encontro. Da sombra a luz.

E junto nesta caminhada estranha sobre a Terra, duas coisas sempre me acompanharam: a fé e os fones de ouvido. Sei que talvez eu esteja falando sozinho, mas quem sabe um dia estas palavras encontrem alguém que as esteja buscando. Para viver o luto e permitir que o novo floresça. Assim como farei. Não existe nada mais confortador no sofrimento, que saber que não estamos sós. Que não acontece somente conosco. Que todos os dias, alguém compartilha da mesma dor.

O cantor português Tiago Bettencourt, que lançou seu novo álbum recentemente, descreve como ninguém estes sentimentos. Foi esta canção que deu título a esta postagem. Foi ela que me trouxe de volta aqui. É bom retornar.

Fúria e Paz

Minha fúria, minha paz, meu bem
Se não fiz o que devia foi talvez porque temia
não te saber serenar
a luta que por dentro fazia alimento
do mundo a gritar.

Não me ouviste chamar
do alto deste monte
Tão longe da mentira
mas perto está o dia
a água desta fonte
só nos pode lavar
a sombra não devia
mas alto é o nosso monte
bem onde o tempo brilha
Não me ouviste chamar
mas quando à noite vens eu sei…
que és minha, minha, minha

Minha ausência, minha luz, eu sei
que nem sempre te fiz bem
bem longe do que querias
não te soube encontrar
no fundo da maldade
puxar-te a verdade
pra poderes confiar.

Não me ouviste chamar
do alto deste monte
Tão longe da mentira
mas perto está o dia
a água desta fonte
só nos pode lavar
mas quando à noite vens eu sei…
que és minha, minha, minha

Não me ouviste chamar
do alto deste monte
Tão longe da mentira
mas perto está o dia
a água desta fonte
só nos pode lavar
e quando à noite vens eu sei que és minha,

minha, minha

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